sábado, fevereiro 12, 2011

The space between

Um dos meus lugares favoritos em New York City é, definitivamente o MOMA – Museu de Arte Moderna, na West 53 street, e com certeza o MASP não poderia deixar de ser um dos meus lugares favoritos aqui na Paulista, pela sua arquitetura talvez, que é fascinante, mas ainda assim o meu museu favorito em São Paulo, eu diria ser a Pinacoteca do Estado. É necessária que se faça aqui uma confissão, eu não entendo muita coisa sobre Arte. Fiz um curso optativo de História da Arte na ECA, que no final do semestre acabou se tornando um curso de História da Greve, sim, essas coisas acontecem na USP, mas tenho com as artes plásticas a mesma relação que tenho com a Literatura, ela me comove, me ensina, me deleita, simples assim.

Once upon a time, uma bela sexta-feira a tarde no meu ano de au pair, feriado judeu, consequentemente, feriado para mim, um dos dias mais incríveis que tive em NYC. As sextas-feiras o MOMA é grátis a partir das 4:00 da tarde. Vida de au pair, short money, e a tão esperada free Friday. Foi a minha primeira visita ao MOMA. Decidi acordar cedo e aproveitar o dia, o tempo estava agradável, era o Ano Novo judeu, fim do verão e começo do outono, um belo dia para um picnic no Central Park. Desci na Penn Station e fui visitar, também pela primeira vez, a NY Public Library, o tipo de passeio que ninguém ia querer fazer comigo anyway. A visita a Public Library arruinou os meus planos de picnic no Central Park, não podia entrar na biblioteca com o meu sanduíche e os meus snacks, jurei para o segurança que não ia abrir a backpack dentro da library, he didn’t care, trash it. And so I did. Se você não é um grande fã de literatura, mas como eu é fã de Sex And The City, já teve a oportunidade de ver a library por dentro. Sim, é nesta biblioteca que a Carrie Bradshaw deveria casar com o Mr. Big, se ele não tivesse freaked out no último minuto, no primeiro filme. A biblioteca é simplesmete linda, really inspiring, e para a minha surpresa tinha um exemplar do nosso querido Machado de Assis, realmente vale a visita. Uma opção pra quem não vai curtir o passeio é dar uma passadinha na Quinta Avenida e ver a biblioteca por fora mesmo, a entrada principal é linda, e ao lado do Bryant Park, onde com certeza vai encontar alguém tocando música ao vivo e é também gostoso assistir a infinidade (e diversidade) de pessoas que passam por ali. Podia ter pensado nisso antes e fazer o picnic ali mesmo. Mas lá fui eu, “sandwicheless” para o Central Park. Depois de um lovely passeio pelo parque, fui caminhando para o MOMA. E a minha tão esperada free Friday no MOMA, patrocinada pela Target, estava para começar. É claro, depois de uma bela fila. Diante de mim na fila, um casa francês, gay. Queria uma desculpa pra puxar assunto, mas não rolou, o casal não parecia estar in a mood para fazer novos amigos, então me dediquei simplesmente a tentar decifrar o que diziam, I’d better start working on my French, foi o que pensei. E vamos ao que interessa, a primeira vez no MOMA. A primeira impressão diante de uma obra de arte moderna vai ser sempre: what the hell is that? Depois de algum tempo, as pinturas e esculturas passam a fazer algum sentido. Eu estava sozinha. Pra você que já foi comigo ao MASP, Metropolitan Museum, Louvre, D’Orsay, you know what I mean. Na maioria das vezes gosto de estar sozinha, porque eu vou querer take my time por lá. Foi a primeira vez que me deparei com Andy Warhol, e foi por ali que começei a flertar com ele, e me apaixonei. Descobri então que existia um museu todinho dele em Pittsburg, mas Pittsburg fica way far from New Jersey. Era melhor me contentar com o MOMA mesmo.

E um belo dia, de volta a vida real no Brasil, trabalhando, estudando, correndo feito louca, tenho a bela notícia de uma mostra sobre o Andy Warhol no Brasil. Sim. O Mr. America, na Pinacoteca do Estado. Desta vez eu queria a companhia dos amigos, mas todo mundo estava bem ocupado, eu também estava, faculdade, trabalho, licenciatura, e como todo bom brasileiro acabei deixando para ir no último dia, o último dia da exibição. Realmente não fui a única a deixar para os 45 minutos do segundo tempo, a maior fila da história das minhas andanças por museus. E foi nesta época que me apaixonei, não somente pela Pop Art do Mr. America mas também por suas frases, seus pensamentos que estavam everywhere na exposição.

Ultimamente venho pensando muito sobre a noção de realidade e fantasia do Andy, e lembro de ter ficado puzzled quando vi a citação que dizia “"I don't know where the artificial stops and the real starts." Well Mr. America, neither do I. Como delimitar esta linha entre o que realmente está acontecendo e aquilo que é fruto somente na nossa imaginação, do nosso desejo, da nossa interpretação dos fatos? O que é real, nas nossas relações humanas contemporâneas? Quantos dos nossos amigos são realmente amigos? Uma pessoa que você conhece apenas pela internet pode parecer a pessoa mais real, e te conhecer mais do que qualquer outra, e realmente saber as suas true colors, enquanto uma outra que está ali na sua frente e por não ter facebook ou orkut parece ser tão irreal, e você duvida se ela é a pessoa que diz ser, já que você não pode checar o seu profile, amigos, preferências. O que é real dos reality shows? Porque o banal se tornou tão fascinate?

Segundo Warhol, "People sometimes say that the way things happen in the movies is unreal, but actually, it's the way things happen to you in life that's unreal. The movies make emotions look strong and real, whereas when things really do happen to you, it's like you're watching television -- you don't feel anything. E talvez este seja um sentimento compartilhado por muitas daquelas que tiveram a experiência de au pair, não saber mais distinguir o real da fantasia. Você mora numa casa, que não é sua, dirige um carro, que é não é seu, cuida de crianças, que não são suas, com todo o seu amor e dedicação, e brinca de ser mãe por um tempo. Você fica perdida e faz amigos que em pouco tempo se tornam amigos de infância. Então você volta para uma casa, que é sua, um carro que é seu, uma família que é sua, e você ainda se sente out of place. E muitos dos seus mais novos amigos de infância voltam pra casa também, cada um em um estado diferente, outros decidiram ficar onde estavam. Então você pode viver a sua vida real e fingir que nada aconteceu, como muitos ou “... in your dream America that you’ve custom-made from art and schmaltz and emotions just as much as you live in your real one."

E assim como a amizade, também o amor, "fantasy love is much better than reality love”. E nos meus dias melancólicos vou ouvir Dave Matthews band e me perguntar: como descobrir o espaço entre o real e o imaginário? The space between New York and São Paulo, o espaço entre o MOMA e a Pinacoteca, o português e o inglês, the space between wrong and right, your heart and mine.